O PAICV não vai mudar 2006
Intervenção antes da Ordem do Dia
Humberto Cardoso
30/11/06
Nestes últimos dias a actuação do Governo e do grupo parlamentar que o suporta tem-nos relembrado da postura permanente do PAICV na política: se não está a atacar, está a mobilizar as suas forças para atacar. E nestes dias veio o ataque:
atacou o poder judicial, dizendo, com cinismo, que acatava as suas decisões, ao mesmo tempo que publicava opiniões contrárias ao acórdão e, por omissão intencional, fazia o país pagar a sua desautorização pelo Tribunal:
atacou o princípio de separação de poderes na forma displicente e não assumindo responsabilidades com que toma os repetidos falhanços da relação de moderação Presidente da República/Governo em manter o sistema político a funcionar dentro dos parâmetros constitucionais.
Atacou virulentamente os partidos de oposição por um ter pedido a demissão do Governo e o outro ter apresentado uma moção de censura.
Atacou a comunicação social directamente pelo nome dos órgãos visados e, pela boca do Sr. Primeiro-Ministro, repreendeu vigorosamente os órgãos estatais por passarem demasiadas conferências de imprensa, causando ruído e não deixando o Governo trabalhar.
É mais do que claro que o PAICV não tem uso para a oposição. A cultura política que sempre teve exclui os outros, nega qualquer valor ao pluralismo e vê como inútil todo o exercício do contraditório.
Usa várias tácticas para se manter nesta senda:
Primeiro, imprime nos seus militantes esse ar de superioridade de partido com história, de partido de Cabral, onde, como num exército, todos falam a mesma coisa, contam as mesmas anedotas dos adversários/inimigos políticos, debate-se o outro com a ficha pidesca na mão e com licença, à semelhança do James Bond, para atacar sem limite a honra e a dignidade, dispensados de qualquer problema de consciência.
Segundo, afoga o país e as pessoas em propaganda permanente no estilo do agitprop sem absolutamente nenhum escrúpulo e respeito pela verdade. É só ver como a universidade de Cabo Verde está a ser criada através da propaganda, em que a realidade é substituída pela ficção e quaisquer críticas a sugerir que o rei vai nu são esmagadas sem piedade.
Terceiro, força uma cultura de cinismo no país e na sociedade em que se assume que todos actuam por pura conveniência pessoal, em que, conforme as circunstâncias, leis e regras de comportamento são ou não cumpridas, em que os fins justificam os meios e em que o mérito é posto de lado e substituído por expedientes, favores e cor partidária.
É cada vez mais evidente que o PAICV não vai mudar. Não mudou quando podia tê-lo feito. Não o fará agora que chegou à conclusão de que a sua cultura política anterior permitiu-lhe chegar ao poder e entrincheirar-se nele novamente. Resta à sociedade caboverdiana pressionar para que a democracia caboverdiana funcione, para que a Constituição seja respeitada, para tenhamos um poder judicial independente, uma comunicação social livre, atenta e activa e uma oposição vibrante para conter a cultura política iliberal do Paicv. Desejo boa sorte a todos nesta luta pela preservação da Liberdade em Cabo Verde.
Comments
Post a Comment