Monday, October 30, 2006

Debate da Moção de Censura 2006

 

Intervenção no debate da Moção de Censura

                                                                                                          Humberto Cardoso

                                                                                                             27/10/06

 

Sr. Presidente da A N, senhores membros do Governo, colegas deputados

 

Espera-se dos governos que na sua função de direcção e execução da política interna e externa do País ajam com lealdade ao sistema político instituído, com honestidade na explicitação dos seus objectivos e na mobilização da vontade nacional necessária à implementação das suas políticas e com um espírito de solidariedade para com todos, tudo fazendo para que cada caboverdiano realize o seu direito à felicidade e à prosperidade individual e familiar.

 Anda mal o governos que mantem uma tensão permanente com a Constituição da República e que deixa transparecer que não se dá com a existência da oposição, que não se dá com a necessidade do contraditório no parlamento, que não se dá com o  pluralismo na comunicação social, e que nunca assimilou a ideia de um poder judicial independente e capaz de anular actos legislativos do Governo e do parlamento em nome da Constituição.

 Anda mal o Governo que sente a necessidade premente de impor uma interpretação histórica da vida do País, um interpretação feita à medida de justificação dos tempos em que o partido que o suporta tinha instituído um regime partido de único, ou seja um regime de princípios absolutamente opostos ao regime democrático, liberal e constitucional que temos hoje. Não é da ética republicana a utilização pelo governo de cargos públicos e da máquina do Estado para impingir interpretações ideológicas do passado numa democracia que ser quer plural.

 Anda mal o Governo que se socorre da pura propaganda para manter o eleitorado complacente não se inibindo de reivindicar coisas rídiculas como proclamar-se melhor governo disto ou daquilo como se existisse alguma entidade que de forma absolutamente independente avaliasse governos. A avaliação de um governo é uma actividade intrinseca e incontornavelmente política. É o que os cidadãos fazem quando por exemplo vão votar. A confusão de governança com governação é um exemplo de falta de honestidade inadmissível a governos em democracia.  

 Anda mal o Governo que para fugir às suas responsabilidades como aconteceu tempos atrás com a capital do país às escuras durante meses não se coíbe de agitar paixões primárias nas fronteiras do patriotismo exacerbado e deslocado para desviar atenção do país e no processo perde de vista os interesses públicos que devia assegurar.

 Anda mal o governo que não assimilou a ideia que governo na democracia é sempre um governo limitado. Limitado pelo seu respeito pelos direitos liberdades e garantias dos cidadãos, limitado pela a obediência estreita à Constituição,  limitado pelo uso de competências próprias dos outros órgãos de soberania, o presidente da república, o Parlamento e os tribunais (os checks and balances do sistema),   limitado pela existência da oposição e pelos direitos das minorias.

 Finalmente, anda mal o governo que tem a suprema arrogância de pretender castigar o país e a sua população porque não lhe foi permitido que usasse certos meios para atingir determinados fins, independentemente de esses fins serem ou não nobres, adequados ou não às exigências do momento.  

 Por tudo isto o Governo do PAICV merece ser censurado. 

O país exige que o Governo do PAICV adopte sem reservas a cultura política democrática consentânea com os princípios e valores da constituição da república e que baseia a sua actuação a todo o momento no respeito por todos os caboverdianos.

Friday, October 27, 2006

Políticas no sector das telecomunicações 2006

 

Política de Comunicações                           31/10/2006-                                                                                                                           Humberto Cardoso

 

Mais de um ano depois da apresentação da nova Lei de Comunicações ao Parlamento o Governo continua a mostrar desnorte na matéria vital das telecomunicações no que respeita, designadamente, à diversidade e à qualidade dos serviços prestados, aos custos envolvidos e às potenciais implicações do sector na economia nacional. E isso não obstante as frases atiradas ao ar como Praia digital, a proclamações visionárias de Cyber islands e obsessões como a NOSI.

Seis anos do Governo do Paicv nada mudou no mercado das telecomunicações em Cabo Verde. A Telecom continua  a ser o único operador no fixo, o único operador no móvel, o único provedor de serviços de Internet, o único provedor de serviços de banda larga e ultimamente entrou no mercado da televisão com fornecimento de conteúdos através da tecnologia do IPTV.  Os custos continuam a ser elevados, a qualidade discutível e a economia continua sem a dinâmica que negócios baseados no aproveitamento das tecnologias de informação e comunicação poderiam gerar.

 Entretanto o Governo e o Paicv continuam alimentando o país com tiradas contra monopólios, tiradas contra interesses estrangeiros particularmente portugueses em sectores estratégicos do país ao mesmo tempo que vai perpetuando a situação de ausência de regulação ou então de uma regulação efectiva e com credibilidade reconhecida por todos os stakeholders, ou seja pelas empresas reguladas, pelos consumidores e por operadores económicos que dependem do fornecimento da factores a preços e qualidade garantidos para investirem e dinamizarem as suas actividades.  

 Na Electra viu-se o resultado. O Governo, em vez de desenvolver políticas do Estado, políticas públicas, em matéria vitais como energia e água, optou anos a fio pela politiquice, por retirar dividendos políticos de preconceitos remanescentes de políticas marxizantes  que ainda se alimentam da hostilidade à economia privada e a presença do capital estrangeiro, particularmente capital português pela sua coloração colonial. Resultado: O parceiro estratégico ficou livre da promessa de investir 250 milhões de dólares em quinze anos e o País ficou sem garantia de investimento no valor de 180 milhões dólares para evitar que entre em rotura nos domínios de égua e energia. O que se passou na Praia nos meses de Junho, Julho e Agosto pode constituir simplesmente um “cheirinho” do que o país poderá vir passar a médio prazo.

 O sector de Telecomunicações foi, nas vésperas das eleições, também palco para manipulações nacionalistas, com direito a manchetes em jornais nacionais do género o Governo acaba com monopólio da Telecom, Governo dá um murro na mesa, Mais um operador de móvel etc. Passaram as eleições e tudo ficou na mesma. Negociações estão ter lugar, agora, entre a nova agência reguladora de comunicações e a Telecom. As propostas da telecom são essencialmete as mesmas de 2000,ou seja rebalanceamento das tarifas com diminuição das tarifas internacionais e a subida vertiginosa  das tarifas locais e interurbanas. Ou seja, a Telecom insiste em manter um modelo de negócios baseado em no telefone fixo quando todas as telecoms do mundo estão reorientar-se porque sabem que não se pode bloquear a convergência hoje evidente de migração e convergência de todos os serviços para rede da Internet. Incluindo voz, o VOIP, hoje popularizado pela Skype.

 A CVtelecom propõe diminuir o custo das tarifas internacionais para poder concorrer com as boutiques de chamadas, entidades que ilegalmente andam por aí a comercializar chamadas telefónicas internacionais. A Telecom pode fazer isso, sem perdas significativas porque também, alegadamente, usa a estrutura da Internet para colocar mais de 60% das suas chamadas internacionais enquanto cobra tarifas fixadas para circuitos dedicados. De qualquer forma procura compensar-se de pretensas perdas de receitas nas chamadas internacionais com aumentos nas chamadas locais e interurbanas e alteração substancial (mais de 100%) da taxa mensal de assinatura do telefone fixo.

 Qual é a reação do  Governo? Aparentemente nenhuma. Há um mês atrás o país viu o primeiro ministro a banhar-se na luz de mais uma inauguração. A Zap, a televisão por assinatura com suporte na linha telefónica, a IPTV, Televisão sobre o Internet protocolo. Um investimento, segundo conta, de 3,2 milhões de euros.

 Um investimento que traz a promessa do triple play, da convergência de voz, de dados e de vídeo com base na estrutura da rede da Internet. A promessa da generalização da disponibilidade de banda larga a velocidades de 8 mega por secundo, portanto um banda larga capaz de um impacto fortíssimo na economia do país mas também na educação, na formação profissional, no empreendorismo e na inovação.

 A presença do Primeiro-ministro não serviu para elucidar o país das implicações do investimento. Assim não houve qualquer reacção do Governo quando a Telecom anunciou que afinal a zap é só televisão, não há triple play. A voz deve ser contratada à parte e a Internet deve continuar na mesma lentidão de sempre. O Estado tem uma forte presença nesta empresa nacional. O Governo devia interrogar-se porque fazer um investimento de mais de trezentos mil contos e não potencia-lo, ficando pela exploração da parte mais difícil de retorno considerando os constrangimentos da oferta designadamente do pacote de canais oferecido. Realmente é como se uma empresa de água fizesse uma grande investimento para levar agua canalizada a toda a gente com grande impacto na qualidade de vida de pessoas e na saúde individual e pública e, feito o investimento, se negasse a fazer as ligações domiciliárias por receio das pessoas venderem água por lata nos seus quintais, obrigando todos a continuar a ter água a partir do chafariz.

 O Governo não tem uma reacção compreensiva  a isto porque de facto não tem políticas para um sector que, em todo o lado, é chave para economia e para a modernização dos países. Como aliás em vários outros sectores importantes. Fala-se muito de liberalização e de pôr fim a monopólios. A motivação porém não é o interesse público mas sim alimentar as necessidades politiqueiras do governo e do partido que o sustenta. Ë por isso que os anos passam e situação continua na mesma.

 Governos são mandatados para implementar políticas públicas para que o interesse geral seja atingido. Os governos não são mandatados para estar em permanentes exercícios de simulação e de propaganda e sempre dispostos a explorar sentimentos primários, preconceitos e ignorância para se perpetuarem no poder.

 Cabo Verde precisa urgente de uma política para o sector das comunicações e informática. Cabo Verde precisa urgente de regulação efectiva em vários sectores para impedir a criação de monopólios para promover a sã concorrência, para favorecer a inovação e para proteger os consumidores. É tarefa do Estado adoptar o país de quadro regulatório adequado. O Governo do Paicv tem vários anos de atraso nesta matéria. Já é tempo de parar de se desculparem e de mostrar obra no que realmente é essencial para o futuro do país.

Thursday, July 27, 2006

A problemática das ZDTIs 2006

 

A problemática das ZDTIs        

                                                                Humberto Cardoso  

                                                                                                          Julho de 2006

 

Sr. Presidente da Assembleia Nacional

 

É evidente o interesse por Cabo Verde como destino turístico e como possível segunda residência que se vem manifestando de vários pontos de Europa e recentemente da parte de  ingleses e irlandeses. Tudo isso pode ser uma janela de oportunidades que importa identificar, potencializar e explorar devidamente. Para isso é necessário que o Governo desenvolva políticas compreensivas em várias áreas designadamente políticas de ordenamento de território, de habitação, de formação profissional, de regulação económica, de energia e saneamento e de elevação da capacidade de resposta das câmaras municipais.

 Da complexidade exigida à actuação do Governo para colocar o país na posição de aproveitar a janela de oportunidade enquanto ela se mantiver aberta  nota-se até agora simplesmente o frenesim à volta de terrenos e da disputa de entre o estado e os municípios quanto ao fim a ser dado às receitas das vendas de terrenos. 

 Recentemente o Governo inaugurou uma nova fase nessas disputa. Resolveu alargar ZDTIs, (zona de desenvolvimento turístico integrado) existentes e criar novas ZDTIs. Assim, no fim da legislatura anterior e pelos decretos regulamentares de n.11/2005 e n.12/2005 o Governo declarou ZDTI a área costeira da Baía da Murdeira e integrou na ZDTI de Pedra de Lume áreas que anteriormente à uma ZRPT, ou seja uma zona de reserva e de protecção turística sempre com objectivos expeditos de disponibilizar terrenos para interessados nos sectores imobiliário e turístico.

 A Cabo Verde investimentos já fez saber à Câmara Municipal de S.Vicente que o Governo pretende integrar  uma área de 100 hectares junto à praia de Calheta em S.Vicente à ZDTI de Palha Carga. O objectivo declarado é disponibilizar esses a uma empresa ZKM Investments que já está na posse da ZDTI de Palha Carga. 

 O simplismo que parece orientar a actuação do Governo ( ter terrenos para vender) choca com o alcance profundo das suas decisões: criação de novas ZDTIs e alargamento das existentes.

 A questão das ZDTIs é uma questão controversa: Por um lado envolve expropriação de terrenos privados e municipais e por outro subtrai à jurisdição municipal vastas regiões do país.

 Os elementos problemáticos nas ZDTIs derivam do que considero ser o seu pecado original: As ZDTIs foram criadas pelo decreto legislativo n.3/93 de janeiro de 1993 com base numa autorização legislativa dada pela Lei n.54/92. Essa autorização legislativa tinha como suporte a alínea f do artigo 59 da Constituição de 1980. O problema é que entre a autorização legislativa aprovada em 6 de Agosto de 1992 e a publicação do decreto legislativo em Janeiro de 1993 entrou em vigor uma nova Constituição, a Constituição de 1992. Pode-se perguntar: Se uma autorização legislativa não pode ir além do prazo estipulado, se com o fim da legislatura perde o seu efeito como pode sobreviver à mudança da Constituição?

 A nova Constituição, a Constituição de 1992 instituiu o Estado de direito democrático. E nesse estado a autonomia municipal é um dos princípios básicos. No Estado de direito democrático, segundo os constitucionalistas não poder haver vazio autárquico, ou seja nenhum ponto do território nacional pode situar-se fora da jurisdição autárquica. Nessa perspectiva, a criação de ZDTIs  cria tensões insanáveis entre o estado e os municípios, o que cada vez mais vem-se se tornando cada vez mais visíveis. 

 O problema agrava-se ainda mais porque a atenção em relação às ZDTIis está  concentrar-se essencialmente na questão de venda de terrenos e o fim a dar às receitas daí advenientes. Todo o esforço de ordenamento de território através de planos de ordenamento turístico que estava no centro das competências dadas ao estado pela lei de 93 é substituído pela preocupação com os terrenos e naturalmente com os processos que implicam de expropriação de privados e de municípios.

 O governo justifica-se com a urgência que deve tratar pedidos de investidores. Ser expedito não significa porém atropelar direitos, contornar a legalidade e ser pouco cuidadoso nas informações prestadas ao país.

 Neste particular, e em relação à questão dos investimentos em S.Vicente a serem feitos pela empresa ZKM investiments as informações vindas a público, pela sua inexactidão em relação a factos facilmente verificáveis por todos não trazem muita tranquilidade.

 Por exemplo, a Inforpress no despacho de 21 de Dezembro de 2005 sob o título grupo de Dubai vai investir 125 milhões de euros diz que a ZKM investments é uma empresa do grupo multinacional Profile que tem sede no Dubai e que tem negócios nas áreas de turismo e da imobiliária. Informações similares são no Jornal a Semana de 14 de Abril de 2006 são retomadas mas já a anunciar a chegada da empresa de Dubai com 1,5 bilhões de Euros. Outra vez a Profile agora chamada de Profile Group com o seu director Mohamed Hanif  Khoda é aparece a assinar acordo de intenções com o Estado de Cabo Verde através do Ministro João Pereira Silva.

Fazendo uma simples busca da Profile na google qualquer pessoa fica espantada com a aparente inexactidão das informações que estão a ser passadas ao público em Cabo Verde. De facto na internet, no endereçowww.Profile.ae a a empresa Profile com os seu director para operações na Europa  Mohamed Hanif Patel e director para vendas e marketing Imtiaz Khoda  aparece como um agente de vendas para Europa da empresa Nakheel, essa sim de imobiliária e com investimentos de 25 bilhiões de dólares no Dubai.

 O que nos preocupa, de facto, é saber se o Governo está na posse das mesmas informações que foram passadas pela imprensa pública e privada e portanto se está convencido que está a tratar com uma empresa imobiliária quanto publicamente na Internet essa empresa apresenta-se como agente de vendas para Europa de uma outra empresa. Se o Governo aceita isso seria bom que o país soubesse  porque é que prefere negociar com agentes. E nessas negociações chegar ao ponto de alargar ZDTIs e, com isso lançar-se em acções que poderão envolver expropriação de privados e de municípios.

 Para terminar, Sr. Presidente queria só sublinhar o que disso inicialmente: Se uma oportunidade se oferece ao país importa aproveita-la. Mas de forma inteligente, respeitando a legalidade, respeitando os direitos de todos e usando os recursos, que à partida se arrecada, não para engordar o Estado mas sim para dar expressão à políticas que potencializam as ilhas e o país e nos permitem fazer o melhor da oportunidade que se nos apresenta.

A problemática da cessação de mandato

  A problemática da cessação de mandato                                                                                               ...